O tempero da chef brasileira Alessandra Montagne, radicada em Paris, já chegou a Lisboa e a BRASIL JÁ provou o novo menu do Cícero Bistrot em primeira mão.
Do começo ao fim, ela cumpre a promessa de manter as referências de seu trabalho nos parisienses Nosso e no Tempero (e em breve, no Louvre), que mescla cozinha francesa com ingredientes e receitas brasileiras, com algumas pitadas de portugalidade.
Não poderiam faltar, claro, o pão de queijo com caviar e as coxinhas. Une-se a dupla o pastel de nata de couve-flor, que certamente deixa os mais tradicionalistas com os cabelos em pé. Primeiro, pela audácia da chef. Depois, pela surpresa com o sabor impregnado à versão salgada e vegetariana do ícone português.
A habilidade de Alessandra em trabalhar os vegetais se consolida ainda mais fortemente no prato de cenoura, com purê de cenoura e botarga. O dulçor do tubérculo contrasta com o vinagre da receita e se complementa com o sal da proteína.
Em um menu que dialoga com Portugal, é claro, não poderia faltar porco, aliás, com um toque de mineirice com uma pururuca bem crocante, em oposição à maciez e untuosidade da musseline de aipo defumado. Por fim, a sobremesa, também trabalhada nos contrastes.
Trata-se da variação de limão com formas geométricas de Cícero Dias: o azedinho do creme super aveludado é apresentado em contraponto com placas de suspiro doces e crocantes com pó colorido, que brincam com as cores da tela de do artistas expostas na parece da casa.
Aliás, é daí que parte a inspiração conceitual do menu de Alessandra para o restaurante lisboeta que pertence a dois brasileiros: Paulo Dalla Nora e Ana Carolina Silva, que assume como chef executiva.
Inspiração
“Estou encantada com a qualidade dos ingredientes daqui”, afirmou. Conhecida por seu trabalho de proximidade com pequenos produtores em Paris, onde comanda o Tempero e o Nosso —e em breve, um dos espaços gastronômicos do Louvre—, ela encontrou em Lisboa e nas proximidades, um terreno fértil, que vai além da qualidade da terra e dos produtos que dela saem.
O restaurante, no coração do Campo de Ourique, alia uma coleção de arte à comida, com ênfase à obra de Cícero Dias —não à toa, o nome da casa. O pernambucano fez sucesso na França no período modernista e teve sua passagem por Portugal.
De certa forma, a história de Alessandra e Cícero têm muito em comum. Nasceram no Brasil, mas a consagração veio na França. “Quando conheci a Alessandra no Nosso, em Paris, fiz essa conexão de imediato. É uma alegria tê-la conosco”, disse Dalla Nora.
A identificação de Alessandra com o espaço e a coleção de arte moderna foi a inspiração da chef para criar o menu. Além da busca pelo sabor, há uma imensa dose de cuidado estético com formas e cores, tal como se ao montar o prato, ela pintasse uma tela.
“Desde o momento em que pisei aqui fiquei sensibilizada com a arte do Cícero Dias. Não teria como não buscar nas telas referências para o processo criativo”, reforçou.
E sobre fazer tudo isso em Portugal, que tem tantos brasileiros por perto? “É muito bom porque a gente se sente em casa. E poder trazer um pouco da minha cozinha para Lisboa me deixa muito feliz”, respondeu.
Serviço
Onde: Cícero Bistrot
Quando: Diariamente, das 19h às 23h
Mais informações: @cicerolisbon
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