O Brasil ardeu nos últimos dois meses em parte por ações criminosas e em parte pelas mudanças climáticas intensificadas pela ação humana. Somente no mês de agosto, o país perdeu 5,65 milhões de hectares para queimadas, segundo o MapBiomas, representando 71,9% das queimadas na América do Sul, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.
É como se mais de a metade de Portugal tivesse queimado. A crise climática global tem impulsionado a busca por soluções sustentáveis, e a população brasileira não é exceção. O turismo responsável se apresenta como uma solução promissora ao combinar lazer e preservação ambiental.
Prova disso é que o número de viagens mais sustentáveis está em crescimento, alavancado pela conscientização sobre as mudanças climáticas e o desejo de vivenciar experiências autênticas e conectadas com a natureza.
O Sustainable Travel Report 2024 mostrou que 75% dos turistas estabeleceram a meta de viajar de forma mais sustentável nos 12 meses seguintes.
E o mercado de turismo sustentável projeta atingir 374 bilhões de dólares até 2028, segundo o Statista. Trata-se de um crescimento significativo em comparação com os 172 bilhões de dólares de 2022.
Atento a essa tendência, o Ministério do Turismo brasileiro criou, em 2023, um Departamento de Qualidade, Sustentabilidade e Ações Climáticas. O objetivo é proporcionar o uso do turismo responsável como um forte vetor de proteção do bioma.
E vem dando certo: no ano passado, oito cidades brasileiras foram incluídas no ranking internacional de turismo sustentável da Green Destinations. O ecoturismo já representa a segunda maior motivação para turistas estrangeiros visitarem o Brasil.
Embora o Rio de Janeiro ainda não tenha entrado no ranking de turismo responsável, a cidade se destaca entre as 25 mais bonitas do mundo pela revista Travel and Leisure. E vem aproveitando a fama para apostar no turismo responsável.
Em setembro, o Visit Rio Convention Bureau aderiu à Declaração de Glasgow, comprometendo-se a reduzir as emissões de carbono pela metade até 2030 e zerá-las até 2050.
A seguir, BRASIL JÁ indica onde o turista, ou mesmo locais, podem começar a fazer a sua parte e tornar a cidade —e todo o estado— cada vez mais maravilhosa.
Caminhos do manguezal
A Manguezal Fluminense inclui capacitação profissional dentro dos seus projetos socioambientais de restauração ecológica no entorno da Baía de Guanabara.
Há 16 anos a cooperativa vem dando apoio a pesquisas ambientais e restauração ecológica dos manguezais em conjunto com Unidades de Conservação, universidades e ONGs, com roteiros turísticos desenvolvidos especialmente para este ecossistema.
A cooperativa também monitora uma área onde mais de 13 mil mudas de mangue foram plantadas. Por meio do projeto Caminhos do Manguezal, ela promove o turismo de base comunitária na Área de Proteção Ambiental de Guapimirim e na Estação Ecológica da Guanabara, primeira unidade de conservação no Brasil criada para a proteção de manguezais.
E entre outras coisas, ensina que os mangues produzem mais de 95% dos alimentos que o homem captura no mar.
Os serviços oferecidos incluem passeios de caiaque, produtos artesanais, visitas e vivências com embarcação motorizada guiada na Baía de Guanabara e plantio de mudas de árvores nativas do mangue.
Tem ainda observação de botos da baía e de aves, também chamada de "passarinhar
Circuito ecológico caminhos de Maricá
Através de trilhas guiadas, você poderá explorar a rica biodiversidade da região, visitar estabelecimentos culturais e conhecer a história local. Segundo a prefeitura, a iniciativa promove a conservação dos ecossistemas costeiros e da Mata Atlântica.
Além disso, envolve a comunidade local em atividades de preservação ambiental, com eventos como mutirões de limpeza. O órgão informou a BRASIL JÁ que em 11 anos foram 450 trilhas em 23 roteiros diferentes, com atividades como plantio de árvores envolvendo cerca de 11 mil pessoas.
A iniciativa foi finalista do Prêmio Nacional do Turismo em 2019, promovido pelo Ministério do Turismo. O Circuito acontece quinzenalmente aos fins de semana. Maricá é cada vez mais um destino procurado por turistas interessados em ecoturismo e turismo sustentável.
Maricá. Crédito: Secretaria de Turismo de Maricá, Divulgação
A cidade está em processo de avaliação para o credenciamento pela Unesco como porta de entrada do Geoparque Costões e Lagunas, que envolve quinze municípios fluminenses como Arraial do Cabo e Búzios.
A expectativa é que o credenciamento aumente significativamente o fluxo de visitantes interessados em ecoturismo e turismo sustentável, gerando mais empregos e oportunidades de negócios locais, promovendo o desenvolvimento econômico da região.
"Esses benefícios mostram como o credenciamento pela Unesco pode transformar Maricá, promovendo o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental", diz a prefeitura, em nota.
Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba
Localizado no litoral Norte do Rio de Janeiro, abrangendo os municípios de Macaé, Carapebus e Quissamã (este último, destaque em desenvolvimento sustentável no estado), o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba oferece uma rica biodiversidade, incluindo espécies endêmicas e aves migratórias.
O local oferece materiais informativos a respeito da fauna, flora, trilhas e lagoas. Há ainda ações de educação ambiental que contam a história do local como a ocupação inicial pelos índios Goytacazes.
Criado para proteger uma das últimas áreas de restinga remanescentes no estado, e com acesso gratuito, o parque tem 44 quilômetros de praias e dezoito lagoas costeiras.
Resguarda a porção bem conservada do Canal Campos— Macaé, que levou quase 30 anos para ser construído por mão-de-obra escrava e tem 104 quilômetros de extensão. Ao longo do canal, o visitante Naturalizado tem brinquedos produzidos com materiais naturais e formas orgânicas, integradas à paisagem.
O visitante também tem a oportunidade de observar as aves nativas e endêmicas e passar uma noite na floresta, para entender a diversidade de espécies noturnas da Mata Atlântica.
Quilombo Campinho da Independência
A pouco mais de vinte minutos da Fazenda Bananal, o turista é agraciado com um roteiro etno-ecológico no Quilombo Campinho da Independência. Fundado por três escravas, vovó Antonica, tia Marcelina e tia Maria Luiza, o local foi a primeira comunidade quilombola do Estado do Rio de Janeiro a receber titulação, em 1999.
Durante a visita, o turista aprende sobre tradições e costumes do quilombo e vivencia a rotina da comunidade. A caminhada pelo viveiro de mudas, a visita à casa de farinha e a participação em atividades como o plantio e o artesanato proporcionam uma experiência única.
Restaurante do Quilombo do Campinho da Independência. Crédito: Divulgação
Além disso, um quilombola media relatos de um (ou uma) griô —pessoa mais velha, ao lado de uma pessoa mais jovem, que contextualiza os fatos antigos nos dias de hoje.
O roteiro também inclui uma apresentação de jongo (dança de origem africana, ao som de tambores) e prática de plantio e de artesanato. Para quem quiser ficar para comer, a opção é o Restaurante do Quilombo, premiado pelo guia Comer & Beber da revista Veja.
Reserva Ecovila El Nagual
Há mais de 30 anos o alemão Erhard Kalloch, de 62 anos, e sua esposa argentina Mariana Devoto, de 57 anos, decidiram morar em meio à natureza e escolheram um pequeno pedaço de terra em Santo Aleixo, na cidade de Magé, na Baixada Fluminense.
Atentos desde sempre às questões ambientais, recuperaram parte da mata daquela região e hoje cuidam da Reserva Ecovila El Nagual, com um total de dezessete hectares.
À BRASIL JÁ, Kalloch coloca as catástrofes climáticas na conta do capital, e afirma não ver vontade política no Brasil e no mundo para melhorar a situação. Ele acrescentou que podemos ter nosso próprio paraíso neste mundo, e foi isso que ele fez.
“A única coisa que a gente precisa é [ter] vontade [e] boa fé”, afirmou.
Foi com essa dedicação que a dupla cuidou do espaço, implantou soluções ecológicas para recuperar sem agredir o meio ambiente e transmitiu esse conhecimento.
Eles oferecem cursos, encontros e workshops com temáticas como sustentabilidade, bem-estar, permacultura (promove práticas que imitam os padrões e processos da natureza), turismo ecológico, educação ambiental e arte.
O local promove desde pequenas mudanças nos hábitos cotidianos que levam a um estilo de vida melhor e mais saudável até técnicas usando agricultura biológica e agroflorestal. E ainda oferece acomodações bem ao lado da floresta, além de alimentação orgânica e natural direto da horta.
Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba no seu email o melhor do jornalismo da BRASIL JÁ
Ao se cadastrar você declara que leu e aceitou nossos Termos e Condições
MENSAGEM AOS LEITORES
Jornalismo brasileiro na Europa
Você, leitor, é a força que mantém viva a BRASIL JÁ. Somos uma revista brasileira de jornalismo em Portugal, comprometida com informação de qualidade, diversidade cultural e inclusão.
O assinante da BRASIL JÁ recebe a revista no conforto de casa, acessa conteúdos exclusivos no site e ganha convites para eventos, além de outros presentes. A entrega da edição impressa é para moradas em Portugal, mas nosso conteúdo digital, em língua portuguesa, está disponível para todos.
Ao assinar a BRASIL JÁ, você participa deste esforço pela produção de informação de qualidade e fica por dentro do que acontece de interessante para os brasileiros na Europa e para todos os portugueses que valorizam a conexão das identidades entre os dois povos.
