Vinícius Júnior, jogador brasileiro e estrela na constelação de craques do Real Madrid, está fazendo espumar de raiva negacionisas do racismo na Espanha por ter dito que o país não deveria ser uma das sedes da Copa do Mundo em 2030 caso não consiga combater a sério o preconceito.
O atleta, que é vítima constante de ataques nos campos por ser negro, afirmou o seguinte em entrevista à CNN, veiculada no último dia 28:
"Espero que a Espanha possa evoluir e entender o sério que é insultar uma pessoa pela cor da sua pele. Se não, [o Mundial] precisaria trocar de lugar".
Sim, Vini Jr. fez essa ponderação em tom de desabafo. Mas a fala solta merece o contexto do que o próprio jogador disse na sequência.
Para ficar claro: à continuação da frase anterior, Vini Jr. disse querer ser parte da solução no combate ao racismo e afirmou que a maioria da população espanhola não é racista.
"Acredito e quero fazer de tudo para que as coisas possam mudar porque há muitas pessoas na Espanha, a maioria, que não é racista. É um grupo pequeno que acaba afetando a imagem de um país que é tão bom de se viver."
Evidentemente, o recorte sobre a Espanha não ser palco da Copa tem servido para que o atleta seja, mais uma vez, vidraça dos que acreditam que não há racismo no país.
Outro trecho que tem ficado de fora da cobertura espanhola é o que Vini Jr. fala sobre o apoio que recebe no clube onde joga e coleciona vitórias.
"Temos falado com mais frequência no clube [sobre o racismo], as pessoas estão mais abertas a conversar sobre isso. E não só eu, como todos os jogadores falaram que se acontecer na próxima vez, todo mundo tem que sair de campo."
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Em outro momento, Vini Jr. também disse notar diferença dentro de campo. Ele afirmou que os racistas têm tido mais medo de se expressar dentro dos estádios por se tratar de um local com muitas câmeras. "Três pessoas foram para a cadeia por me insultarem, e isso vai ficar para sempre na história, porque foi a primeira vez."
Reações na Espanha
O jogador brasileiro não deve esperar contar com o apoio da sociedade espanhola ao reivindicar medidas mais duras contra os racistas. Comentaristas esportivos e outros jogadores, em especial os da seleção espanhola, têm reagido à fala de Vini Jr.
Foi o caso de Dani Carvajal, jogador da seleção e também companheiro de Vini Jr. no Real Madrid. Disse o atleta que ele e mais pessoas acompanham o sofrimento do brasileiro dentro dos campos, mas divergiu sobre a Espanha não poder ser sede do Mundial.
"Dentro do Real, nós, companheiros e o técnico, somos contrários a qualquer situação de racismo nos estádios, que é o que nos compete. Sei o que sofre Vini e o apoiamos internamente e publicamente", afirmou Carvajal.
Ao discordar de Vini sobre a Espanha sediar a Copa, Carvajal disse que o país merece ser palco do evento porque há uma diversidade cultural altíssima. "Desde pequeno, fui criado com muitas nacionalidades ao redor, no meu bairro Leganés, e posso afirmar que não é um país racista."
Críticas contra Vini também chegaram do prefeito de Madrid, José Luis Almeida, que chamou as declarações do jogador de equívoco.
"Espero que [Vini Jr.] retifique imediatamente essas declarações. Somos conscientes de que ainda existem há episódios racistas na sociedade e que temos que trabalhar duro para eliminar esses episódios, mas é profundamente injusto com a Espanha, e particularmente com Madrid, dizer que somos uma sociedade racista", disse.