O outro lado do apagão de eletricidade em Portugal: calmaria, reflexão e tempo para viver. Crédito: António Pedro/Lusa.

O outro lado do apagão de eletricidade em Portugal: calmaria, reflexão e tempo para viver. Crédito: António Pedro/Lusa.

Voltou a eletricidade, acabou o descanso!

Um reflexão sobre a vida e as relações durante o apagão que pegou (quase) todos de surpresa em Portugal

30/04/2025 às 14:42 | 3 min de leitura | Vozes em Destaque
Susana Gaião Mota
Susana Gaião Mota
susana@brasilja.pt

Colunista da BRASIL JÁ e psicoterapeuta, autora dos livros "As Dúvidas dos 30", "Sobre(viventes)" e "Mover o Pensamento".

É verdade que passar por algo assim não é fácil, especialmente para os que estavam em viagem, para os que por uma razão grave não podiam comunicar-se e por não sabermos o que estava acontecendo. 

Mas a verdade é que o apagão que vivemos em Portugal afetou muito mais a uns do que a outros.  

Para a geração millennials, totalmente dependente de celulares, agendas eletrônicas, cartões bancários, carros, trotinetes ou bicicletas elétricas parecia o fim do mundo. 

Para gerações mais antigas ou pessoas que vivem mais conectadas com a natureza, para quem conhece os vizinhos pelos nomes, tem sempre dinheiro na carteira, papel e caneta para anotar compromissos e contactos e ainda vê nos livros ou cartas uma forma de entretenimento foi uma oportunidade de mostrarem aos mais novos que se pode viver de uma forma bem mais simples e feliz!  

Tenho a sensação que no nosso mundo se vive a dois ritmos, o analógico e o tecnológico!  

Se até ao apagão os analógicos eram considerados infoexcluídos e despreparados, anteontem tornaram-se salvadores. Eles tinham mantimentos, rádios a pilhas e lanternas em casa.  

Conhecem outros jeitos de se comunicar para além do telefone, email ou WhatsApp. Vão na casa dos amigos, se encontram no mesmo café de sempre à mesma hora e conhecem os hábitos uns dos outros. 

Então, a reflexão que temos de fazer é: será que estas gerações que tanto estudam estão preparadas para as adversidades da vida real?  

Acho que não! 

Os últimos anos têm sido surpreendentes para uma sociedade que quer ter o controle sobre tudo e ainda não percebeu que não têm o controle sobre nada.  

Desde 2020, já vivemos uma pandemia, dois sismos e um apagão. 

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Algumas pessoas aprenderam com isso a ser mais otimistas, mais prevenidas, mais desenvoltas, mas as menos resilientes e controladoras adoeceram.  

O número de doenças mentais como estresse e ansiedade aumentaram muito no pós-covid.  

O isolamento social deixou muitas marcas porque somos seres de vínculos

O dia do apagão pregou-nos um grande susto, mas quando percebemos que possivelmente era uma falha no sistema de energia a maioria relaxou. Não podíamos fazer nada a não ser esperar que se retomasse a normalidade. 

E, sinceramente, achei comovente ver tanta gente na rua, passeando os cachorros, brincando com os filhos, fazendo piqueniques. Todos tiveram tempo para conversar olhando nos olhos para os vizinhos que durante anos nunca souberam sequer o nome. 

Eu própria posso dizer que minha ansiedade sumiu, não tinha emails para responder, centenas de mensagens no WhatsApp para ler e pessoas ligando por tudo e por nada. O dia rendeu muito mais. No silêncio, descobri que os passarinhos da minha rua cantam alto e o quanto a vida real nos escapa por entre os dedos.  

Me comovi ao ver vizinhos partilhar lanternas e comida. Uma amiga contou que a filha pela primeira vez brincou o dia inteiro com as crianças do prédio, subindo e descendo escadas. Como antes nos contentávamos com pouco! 

Agora temos tudo e somos mais tristes.  

Que o apagão nos sirva para refletir como vale a pena viver a vida mais devagar, acreditar que ser é muito mais importante do que ter e que a simplicidade é o nosso maior luxo! 

Viver devagar nos leva a ter menos estresse, relações mais próximas e ser mais tolerantes. Nos momentos de crise temos de nos unir. Não entrar em pânico. Saber que podemos nos apoiar uns nos outros e que juntos somos mais fortes.  

Como manter o equilíbrio em momentos de crise?

As situações podem ser desoladoras, mas algumas estratégias podem ser efetivas em momentos de crise.

Não se isole, peça ajuda se possível. Converse, fale sobre os seus receios. Se não tiver amigos ou família por perto procure agentes de segurança pública como policias, bombeiros ou outros. 

Não alimente pensamentos catastrofistas. Pode ajudar pensar no pior que pode acontecer naquela situação e tentar antecipar e resolver, dentro do possível, os potenciais problemas. 

Faça exercícios de respiração, exercícios de relaxamento muscular ou passeie em lugares perto da natureza. Desvie o foco de atenção dos seus medos. Tudo o que alimentamos cresce. 

Tenha paciência, assuma que é uma situação excepcional e não pense no que está a falhar, afinal não depende de si. 

Confie, sempre surge uma solução para o seu problema. Seja otimista.

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