Fernanda Torres foi uma das indicadas ao Oscar de Melhor Atriz Crédito: divulgação

Fernanda Torres foi uma das indicadas ao Oscar de Melhor Atriz Crédito: divulgação

Um comentário sobre o Oscar: a casa sempre ganha

O Oscar sendo apenas o Oscar

03/03/2025 às 14:15 | 2 min de leitura | Vozes em Destaque

Um breve comentário sobre o Oscar deste domingo (2), especificamente sobre a categoria de Melhor Atriz.

O sistema mostrou que, apesar de tudo, é forte e sempre se impõe.

Para mim, Fernanda Torres foi a melhor atriz das indicadas. Ponto. Mas sou brasileiro, então desconto a torcida. Elimino, por ora, Fernanda Torres da minha análise.

A categoria de Melhor Atriz sempre foi um problema. Atrizes negras, de modo geral, precisam se inscrever como coadjuvantes para vencer. Não preciso me alongar nisso: é um dado histórico.

Dito isso, por regra, Cynthia Erivo, de "Wicked", estava fora da disputa.

A completamente desclassificada Karla Sofia Gascón, ainda que não fosse uma desclassificada, é uma mulher trans. Se uma mulher negra não ganha, o que dizer de uma mulher trans não branca?

E, claro, ela mesma deu bons argumentos para simplesmente não figurar entre as favoritas.

Dito isso, Demi Moore esteve grandiosa em “A substância”. Apesar (ou por causa) do discurso, o filme é grotesco. E fica ainda mais chocante com a atuação de Moore, que se entregou completamente (e sou literal nisso) à arte. Ela estava incrível. E só não foi melhor que Fernanda Torres, a quem volto já.

Seu problema: velha para a indústria. É triste. Mas mulheres idosas ou mais velhas podem vencer como Melhor Atriz. A história também mostra isso. Nenhuma, no entanto, venceu por uma atuação tão perturbadora. Dar o Oscar a Demi Moore nessas condições seria desequilibrar o sistema.

Fernanda Torres, em “Ainda estou aqui”, foi extraordinária.

Se desfez de sua personalidade e, a exemplo de Moore, entregou corpo, voz e alma a Eunice Paiva. Merecia mais que todas. Mas era estrangeira. Não uma imigrante. Não uma naturalizada. Não uma mulher da Europa. Ela é uma completa estrangeira do Sul global, da periferia do mundo. É o que somos: periféricos cultural, linguística e politicamente. Não nos enganemos.

Servimos para reforçar esteriótipos, como demonstrou "Emilia Perez" e sua ofensa ao povo mexicano, mas não para ganhar o Oscar de Melhor Atriz.

Sobrou a jovem Mikey Madison.

Em seu trabalho, foi bem. Não foi excepcional como suas colegas. Entregou o que podia. Nem julgo sua qualidade artística, porque, com todo o respeito a "Anora", o filme não exigia dela grandes coisas.

Termino de assistir ao Oscar deste domingo (2) feliz por termos vencido numa categoria que nos cabe: Melhor Filme Estrangeiro. Mas não escondo minha decepção, embora esteja cansado de saber que, no fim, a casa sempre ganha.

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