O universal da migração
Apesar do desconforto, todos têm suas razões para emigrar. Pode ser por amor, pela busca de novas oportunidades profissionais, pelo chamado à aventura, pelo olhar de mundo sem fronteiras
Roberta Pinheiro é gaúcha e tem 42 anos. Ela desembarcou em outubro de 2019 em Portugal com o marido e as duas filhas —uma com cinco anos; a outra, dois meses e meio. “Foi um mês muito difícil”, me disse ela ao lembrar de sua chegada. “Eu quebrei meu pé uma semana antes da viagem, então tive de vir de cadeira de rodas, com onze malas, duas crianças pequenas e o meu marido”. Além da limitação física, chegou sem casa e foi morar em um Airbnb por um mês. Por mais que haja planejamento, é sempre uma aventura mudar de país e começar tudo de novo, porque imprevistos acontecem, longe de casa tudo pode se tornar um problema, seja a falta de uma rede de apoio ou as diferenças de costumes.
Sandra e Francisco Lopes são setubalenses. O casal fez o caminho inverso ao de Roberta, deixando Portugal e indo para o Brasil. Chegaram ao Rio de Janeiro em 2002, quando Francisco recebeu um convite para gerir um grupo hoteleiro português com várias unidades pelo país. “Os nossos filhos tinham sete e três anos e a nossa terceira filha nasceu no Brasil, em 2007”, lembra ele. A família ficou treze anos fora de Portugal, seis anos no Rio de Janeiro e sete em São Paulo. Em 2016 decidiram regressar definitivamente. Para Sandra, a adaptação ao Brasil foi fácil: “Fomos emigrantes privilegiados, chegamos com uma estrutura toda montada, casa, carro e colégio para os nossos filhos”. Sem dúvida que esse apoio ajudou a integração, e Sandra considera que foi uma experiência muito enriquecedora: “Fomos muito bem acolhidos pelos brasileiros. Eu não trabalhei no tempo em que vivi no Brasil e pude dedicar-me aos meus filhos, viajávamos, eu praticava esporte e lia muito. Fui muito feliz”.
Aos 29 anos, a sesimbrense Cármen Rita decidiu se mudar para Lausanne, a região francófona da Suíça. Era 2016. À sua espera tinha o namorado, também português da região de Coimbra, que lá morava e trabalhava. “Foi uma decisão de coração, mas não foi tomada por impulso. Eu e o meu namorado estávamos cansados de viver à distância, e depois de dois anos longe, decidi despedir-me do meu emprego numa consultora em Portugal e vim ter com ele”, conta Cármen, para quem o início foi duro. O casal partilhava casa com outra pessoa, ela não tinha emprego, e o namorado ainda estava contratado a termo (nada fixo) —por essa razão ninguém lhes queria alugar um imóvel. Entre outras dificuldades, Cármen relatou o quanto foi difícil se separar da família e dos amigos e a adaptação a um clima tão frio. O tempo foi fundamental para ela forjar um sentimento de pertença e fazer do país estranho o lugar a que passou a chamar de “casa”. Os desafios, diz ela, continuam. Recentemente, eles se mudaram para a parte alemã da Suíça, onde ela tem enfrentado mais dificuldades de comunicação por não falar alemão. Mesmo assim, estes quase oito anos fora de Portugal permitiram a ela aprender francês e a aperfeiçoar o inglês. Cármen teve sua filha na Suíça e trabalha como consultora na área de e-learning e formação de adultos: “Faço cursos para empresas que têm necessidades específicas de formação e sinto-me feliz porque consegui um emprego muito bem pago na minha área”.